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Foto do escritorNupeha

Cuidados e planejamento evitam armadilhas em áreas verdes de hospitais

Proximidade com a natureza tende a diminuir impactos negativos de período de internação para pacientes, mas criação de jardins em edifícios de saúde exige cuidados e atenção na escolha das plantas que serão utilizadas


Jardim com flores coloridas exige manutenção, mas traz benefícios para os pacientes do hospital

Árvores de grande porte podem ser usadas em áreas externas amplas

Plantas e flores, geralmente vistas apenas como objetos de ornamentação, podem ter um efeito muito maior do que apenas embelezar o cenário de um hospital.


Quando as espécies certas são cultivadas em espaços adequados e bem planejados, a interação entre pacientes e natureza costuma ajudar na aceitação do tratamento e na rápida recuperação. Por isso, a arquitetura de um edifício de saúde deve propiciar esse relacionamento sempre que for possível. Contudo, alguns cuidados adicionais, que nem sempre são observados, precisam ser tomados para evitar rachaduras no piso e paredes, proliferação de insetos e até infecções hospitalares causadas pela escolha errada das espécies.


Antes de pensar nas cores, objetos e plantas do jardim, é preciso definir, ainda na fase de projeto, qual a finalidade do espaço que será montado. Assim, evitam-se erros comuns como colocar vasos que se quebram facilmente em locais de passagem de macas. Ou manter em áreas fechadas espécies que precisam de muita iluminação e ventilação, aumentando o risco de surgimento de fungos e bactérias nocivas aos pacientes.


Jardins montados em locais de reabilitação ajudam internados a se sentirem mais confortáveis

Depois de decidir o uso que será feito do jardim, é hora de escolher as espécies mais apropriadas para o cultivo. Fatores como necessidade de poda e rega, tamanho das raízes, grande volume de pólen nas flores (que pode causar alergia) e tantos outros precisam ser levados em consideração nesta fase. Algumas árvores podem trazer problemas depois de algum tempo, como a fícus e a flamboyant, que possuem raízes grandes e causam rachaduras no piso. A xeflera e a piracanta, que gostam muito de umidade, podem causar infiltração. “É preciso ainda evitar em estacionamentos árvores como a quaresmeira, pois sua flor mancha a pintura do carro, e a espatódia, que escorrega como casca de banana”, ensina Eliana Azevedo, presidente da Associação Nacional de Paisagismo.


Outras espécies podem até não causar danos físicos ao hospital, mas tem impactos negativos no estado de espírito dos pacientes. “Jardins áridos com muitas pedras e cactos são desconfortáveis, apesar de bonitos. O estilo tropical ou mesmo o jardim japonês são mais indicados”, afirma Maria Carolina Landgraf, agrônoma e paisagista do Instituto Brasileiro de Paisagismo. Assim como os espinhos, folhas duras também causam desconforto em ambientes de acolhimento. Em contrapartida, algumas cores podem deixar os ambientes mais acolhedores. “Os tons pastéis, como o branco, lilás, rosa e azul acalmam”, explica Eliana. “Já as cores fortes, como o amarelo dos girassóis, agitam”, completa a especialista. Para criar um jardim harmonioso, onde os pacientes possam se sentir confortáveis, é importante usar uma ou duas tonalidades de cores apenas.


Nem todo mundo que fica internado está apto a deixar o quarto e passear ao ar livre, mas isso não pode impedir os benefícios do relacionamento com a natureza. Responsável pelo paisagismo do Hospital Santa Catarina, Mary Cristina Silva diz que a arquitetura dos edifícios pode resolver esse desafio. “Pequenos canteiros do lado de fora da janela aproximam a natureza do paciente que está na UTI. Esse contato, na verdade, é benéfico até para a equipe médica”, afirma.


Outro benefício valioso dos jardins diz respeito ao aumento do conforto térmico e ambiental. "O uso da vegetação contribui para melhorar a qualidade do ar, porque reduz os índices de dióxido de carbono, e também ajuda na amenização da temperatura e absorção de barulho externo", ressalta o arquiteto Matheus Takayama, da Cabe Arquitetura.


Jardim do Hospital Santa Catarina, de São Paulo, recebe manutenção constante durante todo o ano

Manutenção


Não é só na hora de montar as paisagens naturais que são necessários cuidados especiais. “Um dos maiores problemas no paisagismo hospitalar é durante a manutenção, que requer mão-de-obra especializada regularmente, o que demanda dinheiro”, alerta Maria Carolina. Uma opção nesse caso é usar plantas rústicas e suculentas, como a bela-emília, jasmim e murta, que necessitam de menos cuidados e são mais resistentes a fungos. Já nas áreas internas, é preciso cuidar dos pratinhos de água sob os vasos, que deixam a água parada. Uma solução é usar vasos que possuam bases com rodízio podendo trocar a água com regularidade.


Ainda sim a manutenção permanente, como é feita no hospital Santa Catarina, é a mais indicada. Semanalmente cuidadas, as rosas do jardim possuem mais de 10 anos e ainda permanecem saudáveis.  “Rosas são muito suscetíveis a pragas e por isso não pode haver descuido. Porém, todas as plantas devem receber muita atenção nos hospitais”, comenta a paisagista, lembrando os benefícios trazidos a todos pelo investimento em um projeto paisagístico.


Os vasos devem ser limpos todas as semanas e removidos quando possível, como os de vidro no hall de espera. Porém, se forem de concreto é preciso limpar em volta deles, onde há acúmulo de sujeira. Plantas que não possuem mais espaço para crescer podendo causar danos à arquitetura, também devem ser trocadas, como era o caso dos antigos fícus em torno da imagem da santa, que comprometiam a impermeabilização do local. Mary optou então por retirá-las e montar um novo jardim. Para as árvores não serem destruídas, elas foram remanejadas para um colégio público da capital, ganhando um destino melhor e mais ecológico.

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