AQUA e LEED validam projetos ambientalmente corretos
Edificação verde. Essa palavra ganha cada vez mais destaque no segmento da construção civil, mas entre o discurso ambiental “marketeiro” e a prática efetiva de ações sustentáveis não é raro detectar um abismo. Por mais gigante que possa ser, às vezes, ele passa despercebido até mesmo por tomadores de decisão, que acreditam em projetos pouco ou nada eficientes em relação à preservação ambiental. Uma boa saída para resolver essa questão, inclusive nos empreendimentos hospitalares, são as certificações sustentáveis direcionadas para atender às urgentes necessidades ambientais da engenharia civil. No Brasil, existem duas certificações desse tipo. O LEED - Leadership in Energy & Environmental Design, sistema americano desenvolvido por aqui pelo Green Building Council Brasil (GBCB) e o processo Alta Qualidade Ambiental (AQUA), resultado de uma parceria entre a Fundação Vanzolini, o instituto francês Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB) e os professores de Engenharia de Produção e de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP. O AQUA é o mais recente. Ele chegou no mercado há pouco mais de seis meses e estabelece 14 critérios de análise. “Diferente das normas que temos hoje, cujos procedimentos são feitos por meio de relatórios enviados à certificadora no exterior, o processo AQUA prevê reuniões e visitas dos auditores durante todo o programa, concepção e realização da obra”, afirma o diretor de certificação da Fundação Vanzolini, José Joaquim do Amaral Ferreira. Para obter essa certificação, o edifício recebe as qualificações: bom, superior ou excelente, sendo no mínimo três critérios excelentes e, no máximo, sete bons. São observados os desempenhos em várias categorias, como: relação do edifício com o seu entorno; canteiro com baixo impacto ambiental; escolha integrada dos materiais; gestão de energia, água e resíduos da edificação; conforto acústico, visual e olfativo; qualidade sanitária dos ambientes, do ar e da água, entre outros aspectos. O coordenador-executivo do processo AQUA, Manuel Martins, explica as particularidades desse processo. “O AQUA contém critérios adaptados ao Brasil que exigem bons desempenhos em categorias distintas. Esta avaliação é feita por meio de auditorias presenciais seguidas de análise técnica que são desenvolvidas em três fases: programa, concepção (projetos) e realização (obra). Após a aprovação dessas etapas, os certificados são emitidos em até 30 dias”, diz Martins. De acordo com informações divulgadas pela Vanzolini, a média de custo adicional para a construção sustentável em relação à convencional gira em torno de 5% do custo da obra. O valor da certificação está incluso nesses 5%, o que representa 0,15% do custo da construção. “A média de retorno desses 5% de investimento aparece depois de um período de 2 a 5 anos. Haverá economia de água, energia, manutenção e gestão de resíduos, mas os maiores benefícios estão voltados à sociedade. Por meio das construções sustentáveis, geramos menos resíduos, diminuímos a emissão de carbono, reduzimos o consumo de água e energia, além de auxiliar a integração das pessoas no espaço que vivem”, acrescenta o coordenador do processo AQUA.
DELBONI AURIEMO CONQUISTA O SELO LEED
Outra opção que pode assegurar a sustentabilidade nas edificações é o LEED – Leadership in Energy & Environmental Design, cedido pelo Green Building Council Brasil (GBCB). Este certificado começou a ser desenvolvido em 1999 com o objetivo de suprir às necessidades americanas em conceituar de forma mais adequada os Green Buildings. De lá pra cá, o sistema foi aprimorado e ganhou o mundo, pois apontou soluções e permitiu avaliar o desempenho das construções em vários aspectos, como: espaço sustentável, eficiência no uso de água e de energia, uso de materiais e recursos, qualidade ambiental interna e inovação de processos.
“O LEED orienta, padroniza, mensura e certifica os edifícios, diminuindo os impactos ao meio ambiente. Qualquer empreendimento pode se registrar para possuir a certificação, mas para recebê-la a construção deve seguir 69 critérios. Cada um deles vale um ponto. Se atingir 26 pontos, significa que o prédio está de acordo com os aspectos sustentáveis e, portanto, poderá obter a certificação básica. A partir de 33 pontos, recebe o certificado prata. Quando chegar aos 39, obtém o ouro. Já com 52 pontos, atinge-se a certificação máxima: a platina”, esclarece Marcos Casado, gerente técnico do Green Building Council Brasil.
Estudos realizados pelo United States Green Building Council (USGBC) mostram que os empreendimentos sustentáveis aumentam a produtividade no ambiente corporativo. Há uma diminuição na ausência de funcionários em 15%. Nas escolas, os alunos melhoram o desempenho em até 20% e, no setor da saúde, os pacientes se recuperam mais rápido, deixando o hospital mais cedo.
“Para as pessoas que habitam ou trabalham nesses edifícios, a qualidade de vida aumenta graças à melhora do ar e das condições de conforto térmico e de iluminação. Para o planeta, os benefícios são inúmeros, entre eles está a diminuição na extração de recursos naturais. Essa nova concepção de arquitetura ganhou força nos últimos cinco anos e hoje já começa a criar novas demandas de mercado na construção civil brasileira. A construção sustentável veio para ficar. Talvez ela surgiu um pouco tarde, porém com o engajamento de toda a sociedade, revendo pensamentos e atitudes, certamente vamos formar uma nova cultura baseada em uma visão sustentável”, complementa o gerente do GBCB, Marcos Casado.
Segundo o GBCB, quatro empreendimentos brasileiros já conquistaram o LEED, outros 79, estão em processo de certificação. No segmento da saúde, uma das empresas certificadas recentemente foi a unidade do Delboni Auriemo - Luiz Dumont Villares, localizada no bairro de Santana, em São Paulo. O laboratório sustentável, inaugurado em março, foi criado para atender cerca de 500 clientes por dia. Especializada em medicina diagnóstica, a unidade teve toda construção pautada nos conceitos de preservação ambiental. Durante a obra, foram utilizados materiais reciclados e certificados, como madeiras vindas de regiões reflorestadas. Além disso, foram implementados programas para redução do consumo de água, energia, promoção da biodiversidade com espécies nativas e reciclagem de lixo.
O investimento que custou sete milhões de reais apresenta múltiplos benefícios, conforme revela Daniel Coudry, gestor de negócios da rede Auriemo. “Investimos cerca de 12% a mais se compararmos a outras unidades. No entanto, sabemos que recompensa virá por meio da economia de água, energia elétrica e manutenção dos equipamentos. É importante salientar que o Delboni não implementou essa prática por questões financeiras, elas têm um peso secundário. O essencial são os valores da companhia. Para nós, a saúde do indivíduo não se restringe ao diagnóstico e à prevenção de doenças. Ela está ligada também a qualidade de vida e ao equilíbrio da sociedade com o meio ambiente”, enfatiza.
Para saber mais sobre as certificações, acesse: Fundação Vanzolini - www.vanzolini.org.br Green Building Council Brasil (GBCB) - www.gbcbrasil.org.br
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