Nupeha
10 de mai de 20195 min
Atualizado: 13 de mai de 2019
Há 25 anos no setor de refrigeração, ar condicionado e ventilação, o paulistano Roberto Montemor, 49 anos, formado em engenharia mecânica com especialização em refrigeração e ar condicionado na Poli-FDTE, é sócio da empresa de consultoria e engenharia Fundament-AR desde 1995, com forte atuação na Abrava, onde foi vice presidente, de 2004 a 2005, e presidente, de 2005 a 2006, do Departamento Nacional de Projetistas, e de 2007 até hoje, vice presidente de Desenvolvimento Profissional.
Montemor foi um dos responsáveis pelo ressurgimento do Departamento Nacional de projetistas da Abrava, em 2004, que forma desenhistas projetistas, além de realizar encontros nacionais anuais sempre em lugares diferentes do Brasil, para a discussão e aprofundamento de itens relevantes do setor.
Para manter-se atualizado, o engenheiro fez cursos de Sala Limpa na Sociedade Brasileira de Controle de Contaminação (SBCC), e diz que estuda muito até hoje, lendo e fazendo intercâmbio com outros profissionais da área em congressos técnicos, cursos e palestras. Com toda essa bagagem, tem sido escalado a participar de comitês de elaboração de normas técnicas referentes a qualidade do ar e contratado para prestar consultoria a instituições hospitalares, disseminando as boas práticas, e contribuindo com o setor de saúde. Ele ressalta que o que mais gosta de fazer em sua profissão são projetos de salas limpas, em hospitais e cozinhas industriais.
Em depoimento ao portal Hospital Arquitetura, Montemor faz um resumo de sua história profissional.
Logo que me formei fui contratado por uma indústria que tinha uma divisão de refrigeração. Após dois meses abriu uma vaga e pedi para ser transferido, pois achei muito legal a área.
Por exemplo, em uma sala de isolamento, o paciente não pode receber ar de fora contaminado se está imuno deprimido, pois pode ter seu quadro, que já é grave, agravado. O ar também não pode sair para outros sistemas quando o paciente tem uma doença altamente contagiosa. Para isso, são criados sistemas que protegem e ajudam na cura dos pacientes.
Acredito que o engenheiro de ar condicionado deva entrar no começo do projeto para ajudar na escolha de materiais e na posição solar, possibilitando a redução da carga térmica da envoltória. Acredito também que a definição de áreas técnicas e espaço de entre forro devem ser pensados no inicio do projeto de arquitetura, para conseguirmos garantir que se instale menos potência, gaste-se menos energia durante os anos de operação e as máquinas disponham de acesso, podendo passar por manutenções e limpezas, essências para assegurar a qualidade do ar dos sistemas, e que o ar condicionado, e exaustão e ventilação sejam saudáveis, ajudando na recuperação dos internados e no conforto e saúde das equipes que trabalham na área.
O primeiro projeto foi em 1989, na Clínica São Vicente, do Rio de Janeiro, quando trabalhava na LUWA, chefiando a divisão de Salas Limpas. Uma sala cirúrgica com teto totalmente filtrante classe 1000. Daí para frente não paramos mais.
Com a Cabe Arquitetura, o saudoso Jarbas Karmann, o Alcindo Delagnese, Frank Siciliano, Ricardo Leitner entre outros.
Venho fazendo trabalhos para instituições como Hospital Santa Catarina, Hospital Samaritano, Hospital São Jose do Brás, Hospital Alvorada, Medial Saúde, Hospitais para a Greenline, Hospital Bosque da Saúde, Hospital Igesp e Incor.
Acho que todos os projetos foram sempre marcantes. Penso sempre que poderei estar ali internado e tento fazer o melhor que sei baseado nas normas técnicas. Mas o projeto que foi um grande desafio pelo pouco espaço técnico foi o Hospital Bosque da Saúde, onde as máquinas do centro cirúrgico ficam no térreo e os dutos sobem quatro andares pela lateral do prédio, pé direito ruim, e ficou ótimo como resultado final.
Participei dos comitês de norma da NBR 16401 Instalações Centrais de Ar Condicionado de Conforto, que define parâmetros de projeto, qualidade do ar interior, foram três anos de trabalho. Participei também do comitê da NBR 7256 Tratamento de Ar em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, que determina parâmentros de projeto e execução para instalações, regulamenta toda a parte de ar hospitalar. Foram quatro anos de trabalho nesta comissão junto com o pessoal da Anvisa. Na área de salas limpas, participei como sócio da SBCC e fiz muitos cursos específicos na área de projeto e construção e certificação de salas limpas.
Foi fascinante a experiência, pois convivemos com engenheiros, médicos, arquitetos especialistas em hospital, e o pessoal da Anvisa. Houve a troca de informações e a leitura de normas estrangeiras. O estudo foi árduo mas gratificante. Demoramos tantos anos, pois tudo foi revisto e exaustivamente discutido a partir das normas da Anvisa. Uma parte do tempo, a Anvisa trabalhou para regulamentar os ambientes hospitalares e a partir daí deslanchamos. Para as Classes de Filtragem e Renovação do Ar, demoramos bastante tempo. Hoje, a norma define claramente para cada ambiente hospitalar as necessidades de temperatura, umidade, renovação de ar, grau de filtragem e exaustão. Todas as instituições e projetistas têm adotado a norma quando da construção ou reforma dos ambientes hospitalares.
Temos sempre que pensar que um hospital, tirando a parte de hotelaria, é uma indústria, pois temos máquinas grandes, com vários estágios de filtragem, dutos e tubulações. O ar de descarga não pode contaminar o ar externo de reposição para manter um ar com índices de CO2 adequado dentro dos ambientes condicionados.
Acredito que o padrão referencial atual deve ser a construção verde e sustentável, que usa bem os recursos da natureza, iluminação eficiente e de baixo consumo, com a envoltória do edifício que garanta consumo menor de ar condicionado, reuso de água, energia solar, energia eólica, máquinas de ar eficientes, com gases ecológicos que não agridam a camada de ozônio, sistemas de supervisão predial que administrem elevadores, acesso, e status das máquinas de ar condicionado.